sábado, 19 de março de 2011

A Educação, o Trabalho e o Desempenho

O sistema de educação moderno, embora tenha como objetivo o desenvolvimento holístico e como tal multidimensional do Homem enquanto ser Humano e logo ser social, tem ou deverá ter um papel importante no que concerne à preparação dos indivíduos para a entrada no mercado de trabalho. Não nos podemos esquecer que todo o sistema educativo se desenvolveu e massificou, desde o século XIX, tendo como pressuposto a integração profissional dos indivíduos.

Não é certamente por acaso que diariamente ouvimos falar da falta de ajustamento do sistema de ensino às realidades do mercado de trabalho, na falta de qualificações, etc.

Tal como o mundo do trabalho a educação tornou-se num dos agentes mais relevantes para a socialização dos indivíduos.

Anthony Giddens (2007), recorrendo ao pensamento de Illich, diz-nos que o fato de os jovens terem um contacto diário e demorado com a escola, esse fator determina que a sua aprendizagem não se limite meramente à aquisição dos conteúdos programáticos transmitidos pelos professores na sala de aula. O contacto com a escola permite que as crianças e os jovens se apercebam de diversas regras que devem ser cumpridas, tais como: o cumprimento de horários, a obediências, o conhecimento das hierarquias sociais. Este conhecimento adquirido no seio da escola é importante, pois muitas das regras escolares são similares às que os indivíduos têm que cumprir quando ingressarem no mercado de trabalho.

A escola é um sistema complexo no qual se movimentam diversos atores sociais com papeis devidamente estabelecidos. A escola não se confina apenas às interações que os indivíduos produzem dentro de uma sala de aulas.

Durkheim foi um dos primeiros autores a teorizar sobre educação. Não será alheio o fato de ter dedicado a sua vida ao ensino e de ser antes de tudo um pedagogo e um professor. De acordo com este autor, «A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que ainda não estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança um certo número de estados físicos, intelectuais e morais que lhe exigem a sociedade política no seu conjunto e o meio ao qual se destina particularmente» (Durkheim, 2007, p. 53).

Pode dizer-se que para Durkheim educação não é mais do que um mecanismo de socialização que é conduzido pelas gerações adultas e interiorizado pelas gerações jovens. Durkheim diz a este respeito que «a educação consiste numa socialização metódica da jovem geração» (Durkheim, 2007, p. 53).

O conceito de educação proposto por Durkheim leva-nos a concluir que a educação é um processo pelo qual se assegura a continuidade da sociedade através da transmissão dos valores morais que garantem a preservação de uma consciência coletiva homogênea que serve de garante à coesão social e como tal ao equilíbrio da sociedade. Ou seja, a educação reproduz o modelo social dominante.

Berthelot (in Diogo, 1998, p.109) apresenta-nos uma definição de educação (no caso prefere designar por escolarização) como «o modo de socialização privilegiada das sociedades industrializadas, através do qual se transmite o saber social, suporte das práticas sociais que asseguram o modo de existência destas sociedades e se faz a integração sócio-profissional dos indivíduos, isto é a passagem de uma posição social inicial a uma posição social ulterior». Esta perspectiva não difere muito da apresentada por Durkheim. Apresenta-se a educação como um mecanismo de socialização que tem como pressuposto e objetivo final a reprodução do modelo social. Berthelot introduz, contudo, um aspecto que é relevante, ou seja, liga a educação (se preferirmos a escolarização) à integração profissional dos indivíduos.

Uma outra visão da educação e do papel da escola é apresentada por Talcott Parsons. Para Parsons (in Mónica, 1981, p. 28) a educação é um processo pelo qual «as personalidades individuais são treinadas para poderem um dia vir a estar emocional e tecnicamente preparadas para satisfazer as exigências dos papéis que como adultos irão desempenhar (…)». A perspectiva de Parsons apresenta a educação como algo que não pode estar desligado das diversas dimensões do homem enquanto ser social. Ou seja, a educação não é um mero instrumento para a integração profissional dos indivíduos, é antes um mecanismo que permite o seu desenvolvimento integral e holístico. A educação deve servir para preparar os indivíduos aos diversos níveis e de acordo com os múltiplos papeis que estes terão que desempenhar na vida adulta.
Kellerhals e Montandon (in Diogo, 1998, p. 81) preferem abordar a questão da educação como um processo diferenciado da socialização. Para estes autores, a educação «(…) contém apenas os aspectos intencionais e a segunda (socialização) diz respeito a todas as transformações e influências a que a criança é sujeita, por pressão exterior». Pode inferir-se que, de acordo com esta perspectiva, a educação resulta de uma atitude proativa. Ou seja, os educadores agem intencionalmente sobre os indivíduos para que estes interiorizem os “conteúdos" estabelecidos pelo sistema formal de ensino. Sendo que a socialização é um processo pelo qual os indivíduos assimilam os valores predominantes da sociedade, em que estão inseridos, através de diversos mecanismos: imitação, interação social face-a-face, comunicação social, etc. Podemos dizer que educação é uma socialização formal e a socialização uma educação informal.

Apesar de todos os autores, atrás referidos, identificarem a educação como um processo pelo qual passam os indivíduos mais novos, importa reter que tal como menciona Giddens «a obtenção de qualificações já não ocorre hoje uma vez na vida» (2007, p. 527).

Deve pois ter-se presente que a educação que, tradicionalmente, ainda é vista como algo que ocorre numa fase precoce da nossa existência, quase como um ritual de passagem para a vida adulta, não faz sentido numa sociedade em constante mutação e em que o mercado de trabalho exige dos indivíduos uma contínua atualização das suas competências e da sua capacidade de adaptação a mudanças rápidas. Cada vez mais se houve falar da aprendizagem ao longo da vida. Temos assim que a educação não é apenas um processo a que estão sujeitos os indivíduos mais novos, mas consubstancia-se igualmente como um veículo de reeducação dos indivíduos adultos em idade ativa. «Vemos jovens engenheiros e técnicos duvidosos se, em poucos anos, não estarão desatualizado porque o progresso técnico e as condições de emprego que dai resultam evoluem demasiadamente depressa mesmo para esses privilegiados» (Béraud. & Millet, 1975, p.150).

Como sabemos, o sistema educativo, logo após as famílias, é um agente socializador onde se mede o sucesso e o insucesso. Digamos que é a primeira instituição constituída para avaliar formalmente desempenhos. Desde tenra idade que os indivíduos que frequentam o sistema de ensino se habituam a ser avaliados.
A avaliação que ocorre no sistema de ensino, apesar das diversas críticas que são feitas, é vista como algo perfeitamente normal. É necessário medir o que os indivíduos demonstram saber.

Pode dizer-se que aquilo que se passa no sistema de ensino, ao nível da avaliação dos conhecimentos que os indivíduos demonstram saber, é de alguma forma transponível para a realidade organizacional do mundo do trabalho. Se é necessário avaliar o que se sabe nas escolas, também é necessário avaliar o que se faz no mundo do trabalho.
Na escola quando se demonstra saber pouco, os indivíduos são penalizados com a atribuição de uma classificação baixa. No mundo do trabalho quando o desempenho é insuficiente, os indivíduos não beneficiam de certas regalias (i.e. prêmios de desempenho, promoções, etc.), podendo inclusive ser penalizados com o desprendimento.
(CARLOS SANTANA)

Luana Gomes Manhães, aluna do 1º período de Licenciatura em Ciências da Natureza-noite)

Um comentário:

  1. A escola tem que se dissociar desse modelo taylorizado, pois nele a educação é vista como um capital: quanto mais conhecimento (sobre um setor) você tem, maiores as chances de conseguir um emprego. Porém esse conhecimento é especializado, com a visão de um só setor da produção, sem uma visão geral do mesmo. Com isso o trabalhador perde a capacidade de pensar, de criar e acaba virando mais uma "peça", mais uma "engrenagem" do sistema de produção. A escola tem que ser vista não como um capital, mas sim como um instrumento para ensinar as pessoas a pensar e a se desenvolver na sociedade.

    Postado por Mayana de Azevedo, 1º período de Licenciatura em Ciências da Natureza - noite.

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