quinta-feira, 24 de março de 2011

ESCOLA ‘TAYLORIZADA’: O ENSINO ESTRUTURADO E OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA

As teorias da administração empresarial foram importadas para a estrutura organizacional da escola pública, através das quais a divisão do trabalho organizado sob o enfoque da centralização de poder, aparece na escola como um instrumento facilitador do trabalho do professor, visto que é por intermédio do professor que o capital implementa suas propostas de modo a atender à necessidade imperiosa em qualificar a mão-de-obra originária da escola para lidar com os recursos que dominam o mundo produtivo. Ao reproduzir o modelo de organização empresarial, a divisão do trabalho invade a escola, para o que é preciso uma preparação especializada dos profissionais da educação. É neste contexto que se afirma a utilidade da divisão técnica do trabalho e, através dela, cada trabalhador se especializa no seu fazer perdendo a visão global do próprio trabalho. A escola vai servir a este processo, no qual o que mais se destaca é a formação da mão-de-obra necessária ao capital.
A seguir serão mencionados alguns aspectos da Administração Científica proposta por Taylor (1966) e pelo Ensino Estruturado, a fim de ressaltar as visíveis semelhanças entre um e outro. O que parece deixar clara a inspiração do Ensino Estruturado no sistema de Taylor.
Taylor (1966, 55) considera que a tarefa seja, talvez, o mais importante elemento da administração científica por ele proposta. Segundo o autor, na tarefa explicita-se não apenas o que deve ser feito, mas também como fazê-lo, e o tempo exato determinado para a execução dessa tarefa. O autor deixa clara também a necessidade de divisão do trabalho ao afirmar que são necessários dois tipos diferentes de homens: aqueles que planejam o trabalho e os que o executam. Esses homens que planejam o trabalho se encarregarão de preparar instruções minuciosas a respeito da melhor forma de se realizar uma determinada tarefa. Os melhores instrumentos para a realização da tarefa serão constantemente aperfeiçoados, cada modificação por eles sofrida será cuidadosamente investigada ainda durante o trabalho, por meio de registros escritos, o que “requer registro, sistematização e cooperação” (TAYLOR, 1966, 127) por parte dos trabalhadores que executam o trabalho.
O Ensino Estruturado também pressupõe a divisão do trabalho: uma equipe, como afirma Castro (2005), composta pelas melhores cabeças disponíveis pensa o trabalho, planeja-o para o professor em todos os seus aspectos – conteúdos, objetivos, aulas, atividades e avaliações. E ainda de acordo com o autor, essa equipe deverá realizar esse planejamento com mais competência que o professor, já que poderá contar com pessoas que reúnem habilidades que o professor individualmente não possui. O professor recebe pronta toda essa prescrição sobre seu trabalho, que lhe deve ser passada de forma clara.
Massi (2006) aponta que o Ensino Estruturado traga a possibilidade de um material didático mais consistente, pautado na literatura referente a cada área do conhecimento, preparado por uma equipe especializada. Esse planejamento seria então o melhor instrumento para a realização do trabalho do professor, o registro amplamente detalhado de tudo o que deve ser realizado em uma aula.
Castro (2006) afirma que “os professores têm de receber essa missão, de forma clara. E precisam prestar conta dela. Os que tiverem êxito na missão devem ser festejados e premiados”. O que nos remete à idéia de Taylor (1966) sobre gratificar o trabalhador pelo trabalho executado.
A adoção do Ensino Estruturado na escola resultou na organização do processo pedagógico a partir de registros prévios detalhados de todas as aulas e atividades realizadas na Educação Infantil e Ensino Fundamental. Esses registros se organizavam na forma de planejamentos de trabalho, elaborados aula a aula, com riqueza de detalhes nas estratégias propostas. No curso do trabalho com os planejamentos em sua sala de aula, o professor propunha por escrito mudanças ou correções a eventuais problemas encontrados nesse material, realizando registros que orientavam a revisão e aperfeiçoamento dos planejamentos para o ano seguinte.
Porém, é importante ressaltar que o trabalho docente lida o tempo todo com um objeto que é também sujeito, o aluno. A docência é uma “profissão de interações humanas” (TARDIF, 2005), onde não se podem prever totalmente os resultados das ações ou atitudes tomadas, já que o “objeto” do trabalho apresenta também demandas próprias e possui a capacidade de oferecer reação, criando situações variadas, com as quais os professores lidam de diferentes formas.
Efetivamente, fruto deste modelo de administração empresarial que vê o homem como parte de uma engrenagem, uma peça de uma máquina e não como ser humano, a escola sofre suas conseqüências, o que dificulta um trabalho cooperativo, criativo, democrático, perdendo-se a identidade da escola como espaço de formação humana.
A divisão do trabalho do operário, o qual deve dedicar-se exclusivamente a sua função não se importando com o funcionamento geral do sistema, leva o operário a fazer algo específico sem ter uma visão de conjunto. Perde-se, portanto, com a divisão do trabalho, a visão global do próprio trabalho e de sua importância social, o que se reflete na escola, com a criação das especializações que levam, fatalmente, à perda da visão global da educação e suas implicações com o contexto social mais amplo.

Postado por Mayana de Azevedo, aluna do 1º período em Licenciatura em Ciências da Natureza - noite.

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