segunda-feira, 28 de março de 2011

Taylor e a Educação na Sociedade Moderna

Cada indivíduo traz consigo uma história que começa antes de seu nascimento,  em
um espaço-temporal pré-existente impregnado por si gnos e significados culturais que
influenciam e determinam a construção de seu self. Portanto, não podemos  refletir as
relações humanas  isoladamente,  pois a pluralidade ou a singularidade dos in divíduos só se
estabelecem nas relações constru ídas dentro do context o sócio-cultural lingüístico em que
habitam.
Ao buscar uma educação menos excludente e mais humana, considerando-a 
indispensável para a formação integral dos indivíduos, propomos uma  reflexão sobre o
papel da escola na  sociedade moderna,  a partir da análise de alguns conceitos
desenvolvidos pelo filósofo canadense  Charles Taylor, sob o olhar de Araujo em sua obra:
“Charles Taylor: para uma ética do r econhecimento”.
Pensar a escola como parte de um ambiente já estabelecido po ssibilita por meio de
uma determinada configuração  cultural levantar algumas questões: Que escola é essa?
Quais são os conteúdos significativos e indispensáveis para uma educação que busca a
construção da identidade moral  dos sujeitos? Quem são estes sujeitos e à que contexto
(grupo humano) eles pertencem? Essa escola pode ser universal?
Responder estas indagações é um dos desafio s da Educação Hoje, que deve  ter em
sua base o reconhecimento do s direitos coletivos de todos os povos do planeta.
Para interpretar os grupos humanos das sociedades con temporâneas, Taylor tenta
superar a visão cientifica kant iana, na qual o agente humano  realiza suas ações  fundadas
simplesmente na racionalidade das ciências modernas.   A partir da expressividade
desenvolvida no romantismo alemão, Taylor elabora conceito s relativos à problemática
das ações humanas,  compreendendo-as como  formas de identidades morais que se posicionam no espaço público. Com isso, ele constrói um pensamento filo sófico ético-
político-cultural que compreende  as questões humanas a  partir dessa expressi vidade.
A expressão é considerada pelo filósofo canadense  um dos elementos
fundamentais para compreendermos  a estruturação da  sociedade moderna; para ele,
expressar-se é antes de  tudo uma reação humana associada ao modo de sent ir ou
experimentar o mundo - é a interpretação do mundo feita pelo agente  humano que o faz
interpretar a si próprio.
Tal expressão ocorre  por meio da linguagem.  A partir da linguagem o indivíduo é
capaz de dialogar, expressando o que está sentindo em sua interioridade,  para Araujo
(2004) é na/pela linguagem que o homem ganha a capacidade de  expressar a si mesmo e
de reconhecer  significativamente a expressão do ou tro.
Ao considerar que todo indivíduo pertence a um “grupo” (pré-existente), com o
qual interage e se constrói, Araujo afirma que a expressão do agente está  ligada à
comunidade sócio-cultural de sua  origem (fontes do self - isto é, das suas fontes cul turais
que estruturam o seu self), e suas experiências mesmo sendo particulares estão vinculadas
às suas bases on tológicas, ou seja: a  identidade do indivíduo é resultado do intercâmbio
com o outro, a construção dessa identidade se dá de maneira dialógica, na dependência da 
relação com o outro e dentro de um contexto. Deste modo: “O  intercâmbio gerado pela
linguagem entre os indivíduos leva-os a compreender  que a construção das suas
identidades passa pela contribuição significativa de terceiros”  (ARAUJO, 2004, p.176).
As ações e os pensamentos do agente  (sua identidade) estão car regados de
significados próprios, resultado s de suas relações  com o contexto em que vive. Daí a
crítica de Taylor à ciência,  pois esta descons idera as particularidades da vivência do
agente, universal izando as ações humanas  e ignorando as experiências da  identidade

Taylor define identidade como “a compreensão daquilo que tem importância
crucial para nós”, é a posição que escolhemos tomar  diante do mundo. Fará parte da
minha identidade, além das minhas características fís icas, origem,  educação, etc, uma
linhagem,  o grupo de pessoas no contexto do qual partic ipo e me orgulho, com quem me
identifico e com determinadas qualidades as quais valor izo e possuo. As ações realizadas 
por nós (agentes humanos) revelam nossa identidade, que compreendemos a partir da
reflexão.Para interpretar -se e construir sua identidade, o agente humano faz avaliações de
seus desejos e de seu modo de agir , Araujo tendo em Taylor sua fundamentação,  analisa a
avaliação dos indivíduos de duas maneiras: aval iação fraca e avaliação forte.
Para ele, a avaliação frac a tem tendências utilitaristas e está simplesmente  ligada
ao desejo individual quant itativo do agente, limitando-se a preferências sent imentais e
desconsiderando ques tões relacionadas ao  sentido valorat ivo da ação. Como declara:

Na avaliação fraca, para algo ser julgado como bom  é necessário
somente que seja desejado. Não há, assim, o comprometimento com as
formas valorativas que podem constituir o próprio desejo. (ARAUJO 2004, p.87).


 Já a avaliação forte está pautada  no valor qualitativo dos desejos, o agente
percebe que o que está em jogo com o seu modo de agir é a construção de sua identidade
humana. Sendo assim,  Araujo caracteriza a avaliação  forte como: “modo reflexivo dos
desejos” fazendo uma relação entre desejos e valor , qualificando os desejo s como
expressões valorativas da ident idade do sujeito humano. “Ser um avaliador forte é, então,
ser capaz de uma reflexão que é mais articulada. Mas tal reflexão está também num
sentido de profunda importância”  (ARAUJO, 2004, p. 92).
Sob estas cons iderações retomaremos uma questão: Como a educação escolar
pode contribuir para a formação moral do agente humano, como avaliador forte, na
Sociedade Moderna?
Os desafios da atualidade estão marcados por crises e incertezas que denunciam a
fragilidade e a insuficiência dos ideais da modernidade, provocando interrogações e 
sugerindo novas reflexões e  buscas.
Neste contexto, a escola compr eendida como instituição sócio-cultural lingüística,
encontra-se em um momento de auto-aval iação, que acabará redirecionando suas atitudes
frente ao novo. Se pensarmos a Educação como um projeto que estabelece relações entre
passado/presente/futuro, podendo ser revisto e construído de maneira aberta e flexível, 
encontramos sua jus tificativa em transcender o presente na busca de sociedades mais
justas.
A modernidade caracteriza-se pela insatisfação que nos move a
aperfeiçoar o existente, a criar, a perceber, a distribuir e a satisfazer necessidades. Se todos estamos satisfeitos, não há movimento.
(HELLER 1998 apud SACRISTÁN, 2000
)
Hoje, o que caracteriza o universo escolar é a pluralidade cultural, no plano
pedagógico a escola vem sendo “convidada” a reconhecer os diferentes sujeitos
socioculturais presentes em seu ambiente, precisando buscar  elementos que facilitem o
desenvolvimento das habilidades necessárias para  compreensão dessa diversidade
cultural.
Repetir o erro do passado e  continuar buscando uma  escola única, obrigatória e
inclusiva, só faz aumentar o número de excluídos; necessi tamos de espaços de produção
de informação e conhecimento de identidades, práticas culturais e sociais; ambientes que
promovam uma educação verdadeiramente intercul tural e possibilitem o reconhecimento
da diversidade e realidade do outro. Para Imbernón  (2000, p.82): “[...] assumir a
diversidade supõe reconhecer  o direito à diferença como um enriquecimento educativo e
social”.
Parece necessário considerar e possibilitar que a escola seja um lugar para busca,
construção, desafio, praze r, diálogo, descoberta de possibilidades de expressão e
linguagens. Este novo olhar para a escola, permite a inclusão de novas perspectivas
educacionais, podendo ir além da visão de escola somente  transmissora de  conhecimentos
conceituais, pois também são conteúdos escolares os valores esté ticos, as atitudes morais
e sociais, etc. Daí a  escola promover  situações de aprendizagem  que realmente
contribuam para o desenvolvimento integral do  indivíduo, propician do um ambiente de
diálogo entre diferentes linguagens e saberes (científico, social,  escolar), possibilitando
que o agente (aluno) reflita sobre suas ações e pondere seus desejos a partir das avaliações 
fortes, que como vimos anteriormente,  colaboram para a construção de  sua identidade.
O reducionismo das ações humanas, seja por sentimentos
preferenciais, seja por formas racionais limitadas ao cálculo, leva a
cultura moderna a ocultar a questão das configurações morais que
fazem o homem, como agente, avaliar o que é uma ação moralmente
superior à outra. (ARAUJO, 2004, p.98).
A escola não é uma instituição neutra, ela é um fator para a inclusão ou exclusão 
dos indivíduos, é principalmente a partir da educação que recebemos que nos tornamos cônscios e capazes de refletirmos sobre  nossas ações.   É por isso que esperamos para o
futuro (próximo) uma educação mais aberta,  democrática, consciente e menos excludente ;
e este será nosso desafio para a educação do séc. XXI.


LCN, 1º Período - Esthfany Andrade

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